segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Espaço Educação: Fazer ou não fazer viagem de estudos?

por Juliano Carrer
 - cocalcomunitario@gmail.com

Na última sexta-feira estive em um a viagem de estudos com cerca de 130 alunos. Eram três ônibus e em um deles eu acompanhei a viagem. Confesso que no fim do dia, após os últimos alunos embarcarem nos carros dos pais e irem para suas casas, eu estava exausto, completamente acabado. E eles? Alguns iriam a uma formatura ainda, outros foram fazer um lanche... Quanta disposição!

Ao longo da viagem me encantou muito a capacidade que essa gurizada tem de amar. Claro que também erram, assim como todos. Mas não vejo integração, do tamanho que eles são capazes de promover, nos adultos apenas por passarem algumas horas juntos. Incrível perceber colegas que quase não se comunicavam na escola e que durante a viagem chegam a conversar durante uma hora sobre diversos assuntos. Alunos que vivem com a cara fechada nas aulas, sorrindo o tempo todo. As vezes esperamos deles coisas diferentes do que eles desejam e por isso nos frustramos. Mas se ficamos abertos e sensíveis ao que os jovens nos trazem podemos nos surpreender e muito. Cada vez entendo mais o grande acompanhante de jovens, Hilário Dick, quando escreve que existe o divino no jovem. Somos treinados a não perceber isso. Logo, cabe a nós irmos nos educando para o contrário, para a possibilidade de enxergar coisas diferentes das que buscamos.

Erramos profundamente quando esperamos, ao invés de construirmos juntos. Quem espera fica na expectativa que outros façam aquilo que desejamos, no caso, os alunos. E se esperamos que eles façam aquilo que almejamos, desrespeitamos totalmente a possibilidade de eles construírem seus próprios caminhos, desrespeitamos a possibilidade de neles existir também o divino, de neles também a esperança acontecer, de deles surgir coisas belas.

A proposta dessa viagem que fiz foi diferente de outras anteriores. Nela, visitamos três lugares: O planetário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, depois fomos até o MARGS (museu de artes do RS) e em seguida fomos ao Parque Marinha do Brasil (um parque esportivo e muito arborizado). O que tem de diferente nisso tudo? É que entre as visitas teve muito tempo livre, quando eles podiam caminhar por Porto Alegre ou pelo parque Marinha. Alguns por conta própria descobriram a catedral e as estátuas na praça a sua frente e me contavam: "Nossa professor como são lindas". Outros optaram por assistir aos diversos artistas de rua que se apresentavam. Outros visitaram as tendas de artesanato e o comércio local. Outros jogaram bola. Outros optaram por deitarem em baixo das sombras das árvores e conversar. Outros tocavam e cantavam ao longo do parque. Outros andavam de skate, bicicleta... Nem tudo eu consegui perceber e acompanhar, mas o pouco que percebi mostrou que em meio a tanta diversidade existia uma imensa capacidade de criar/recriar momentos de harmonia, de união, de companheirismo e, porque não dizer, de amor.

Nosso desafio talvez esteja em cada vez mais perceber em nossos alunos esse divino ao invés de projetarmos neles nossas expectativas.

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